Sabe aquela sensação lá no fundo de que você precisa fazer alguma coisa? Às vezes parece que é algo chamando, outras vezes parece uma fagulha de uma ideia. Tem hora que parece que é um sinal, outras uma pulguinha atrás da orelha. O que acontece quando nós devidamente damos ouvidos a esse sentimento?
Esse sentimento vai embora na mesma rapidez que chega em diversos momentos ao longo da nossa vida, mas ele está ali, lá no fundinho, pronto para se manifestar de vez em outra… quando você vê um filme muito bom que mexe com seu coração; quando você vê um documentário inspirador; quando você está tomando café com alguém especial; quando está em devaneio no chuveiro; quando você vê alguém brilhando de sua forma mais genuína…
Chamei internamente esse sentimento de leitmotiv – o motivo condutor. Olhei para dentro de mim e consegui enxergá-lo presente em grandes momentos decisivos da minha vida, como quando criei este blog e quando tomei a decisão da minha formação. Mas também notei que, com o passar do tempo, meu motivo ficou adormecido. A correria do dia a dia o calou, deixou-o de lado.
A rotina o ajudou a perder força, mas nunca sua presença. Eu sabia que ele estava lá e não sabia lidar com ele. Ora, minha vida tava ótima… meu emprego CLT estava muito bem, obrigada, por que eu iria querer sair? Eu tenho tido ótimo freelas para fazer meio período… Mas tinha alguma coisa que não me deixava satisfeita. O que era? Comecei a me questionar.
Essa quarentena me deu a oportunidade de olhar para dentro de mim e dar voz aos meus sentimentos com o carinho que eles merecem, em especial esse sentimento, que antes era inominável. Este sentimento que esteve comigo há mais de uma década, ora nebuloso, ora esclarecedor, mas sempre condutor. Foi quando o reconheci como um sinal. O acolhi e senti que eu precisava quebrar algumas coisas da minha vida para construir outras para dar voz.
Porque eu sabia que podia ter mais, e eu sabia que isso tudo tinha a ver com a minha vocação. Eu sentia como se eu tivesse tudo e nada ao mesmo tempo. Um emprego ótimo, freelas legais, mas um sempre reprimindo o potencial do outro. Me deparei com uma escolha, e eu não me sentiria plena novamente se não seguisse a minha intuição.
Eu fui corroída pelo medo. E se não der certo? E se não me for rentável? E se houver momentos em que não terei condições de pagar minhas contas? E se as pessoas não acreditarem e derem valor ao meu trabalho? Notei que o medo era o principal fator que me impedia de dar o passo que eu precisava. Aquele medo que nos retrai, que nos acomoda e nos fazem gostar disso. E neste tempo que eu olhei para dentro de mim, notei que que eu jamais avançaria se permanecesse refugiada nele. Eu sei do meu valor, do meu potencial. E se eu desse um basta nesse medo e abraçar o fato de que realmente sou capaz?, pensei.
Um frio na barriga começou a tomar conta de mim, o medo foi se transformando em outra coisa. Uma felicidade inexplicável passou a me inundar. Meu Deus, será que estou no caminho certo? E parece que em poucos dias meu leitmotiv foi mostrando mais sinais do universo. Foi ele ou Deus (ou será que um é a presença do Outro?) que me fez acordar um dia e acreditar que eu estava no caminho certo. Nunca tive tanta certeza na minha vida! E já no dia seguinte marquei uma reunião com a chefia para informar a minha saída.
Eu disse sim para o meu chamado. E quando o fiz senti a mesma plenitude que senti quando eu tinha apenas 16 anos que aprendi a escrever poesia em meio a linhas de código. Senti a mesma plenitude aos 18, quando prestei vestibular para Design Gráfico, e de quando tinha 22 quando peguei meu diploma. Aquela mesma plenitude quando entreguei meu primeiro trabalho, aos 17, quando percebi pela primeira vez que minhas mãos tinha a capacidade de realizar sonhos de outras pessoas. A mesma plenitude quando abri meu portfólio em 2010, aos 19, de nome anaflaviacador.com. A mesma plenitude de quando 7 anos depois este nome pessoal se tornaria o studio afcweb.design. E hoje, aos 29, eu disse o verdadeiro sim.
Hoje, escrevo este post com essa plenitude multiplicada por 10, com o meu leitmotiv fazendo parte da linha de frente da minha vida ao invés de plano de fundo. Eu disse sim ao meu ao meu studio, que sempre foi onde meu coração esteve. E agora serei totalmente dele, de corpo e alma.
Minha mãe sempre falou para mim que tudo tem seu tempo. E de fato, tem mesmo. Levei anos pra ter essa coragem de largar meu emprego e tocar meu próprio negócio, e acredito que agora é a hora. Talvez, se eu tivesse tomado essa decisão antes não teria o mesmo significado de hoje. Mas uma coisa é certa e independe desse ditado: sonhos ignorados nos fazem amargos; desejos deixados de lado sempre vão voltar à tona, se manifestando das mais diversas formas, como falei ali em cima nos primeiros parágrafos. Se você tem esse sentimento, ele vai te incomodar até você escutar.
Nosso leitmotiv não é cessado com nossa indiferença.
E muito menos pelo medo.
Quando será que você vai se escutar e dizer sim?