Creio que não sou a única a pensar no que está nos esperando lá fora. Aquela vida, aquelas companhias, aquelas atitudes foram abandonadas à força. Não se pode viver tão.. como posso dizer?, igual por muito tempo. Nada será como era antes. Eu não gosto desta idéia e confesso que estou com medo da mudança. Mas sei que é preciso! Só de pensar que eu tenho que começar a viver por "conta própria" me dá desespero. Com certeza é infantilidade da minha parte e, certamente também, egoísmo. Mas ao mesmo tempo que possuo este medo, tenho uma curiosidade gigantesca de descobrir como que é tudo… como é viver. Será que dá para me entender? Eu tenho receio de seguir em frente por eu ter sido muito limitada no meu mundo.
Meu pais podem ser considerados liberais em algumas coisas. Mas quando se trata de deixar sua filha se desprender um pouco, eles já puxam as rédeas. Como sempre foi assim, então eu nunca reclamei… afinal, eu nunca soube mesmo como é sair para um festa, ir ao shopping com todos amigos, viajar com a família da amiga e andar pela rua sozinha. Eu sempre via meus amigos fazendo isso. Tive inveja, sim, mas como minha família repudiava estas atitudes com unhas e dentes, fui tomando o mesmo partido que eles (mas é claro que às vezes eu rebelava). Deve ser por causa disso que não sou muito chamada para sair, porque todo mundo já sabe: "A Ana não pode sair porque não gosta e porque os pais dela também nunca deixam…" E se eles deixarem, eles vão juntos. Quantas vezes minha mãe foi no shopping comigo e com minhas amigas só para ficar lá por perto para se certificar de que eu não ia fazer parte de alguma loucura? Já perdi as contas.
Não estou reclamando. Agora sou igual a ela, afinal. Odeio sair para festa (a não ser do colégio e de aniversário – esses dois tipos não contam!), ficar em um lugar com muita gente (me sinto claustrofóbica), folia e todas essas coisas de jovens. Sou do jeitinho que ela sempre quis… uma garota quieta, que vive dentro de casa enfurnada em seus livros, e que "estuda" por não ter opção ou fica só na internet. Uma garota "perfeita", anti-social e nerd para aqueles da minha idade.
É por isso que estou morrendo de medo do que está por vir. Não vou ser protegida mais, tenho que aprender a me virar. Para quem recebe tudo de bandeija isso é difícil. Para alguns estou dando um chilique agora! Mas se põe na minha situação, sim? Isso não será fácil. Mas eu quero isso, entende? Eu quero recuperar o meu tempo perdido, antes que esteja tarde para isso. Não quero perder minha juventude por causa da minha família, que me privou de muitas coisas. Quero aprender a sair sozinha (não para a "farra", é sair sozinha mesmo – não preciso de tanta companhia – ou basta apenas estar com quem eu goste), ter meu próprio emprego, ser independente, se divertir e ter responsabilidade. Agradeço sempre aos meus pais por esta preocupação, é coisa de pais que tem uma filha única. Sei que é muito amor e tento entender eles ao máximo. Mas sinto que tem vezes que esse "excesso" de proteção atrapalha.
Sei que será difícil. Já chorei várias vezes por pensar na possibilidade destas mudanças. Porém, eu quero crescer… não importa se for acompanhada por lágrimas e quedas, mas eu quero. Às vezes, poderá ser até bom essas coisas, para eu poder aprender a me virar. Sei que terá uma hora de desespero que vou querer jogar tudo pro alto e voltar para meu quarto e chorar nos ombros de minha mãe… Mas isso não significará fraqueza, creio eu – ou será? Mas eu irei respirar fundo e tentar mais uma vez.
Terça feira será o dia decisivo: faculdade ou cursinho. Torça por mim.