Lembro-me muito bem quando eu era criança, ainda morando em São Paulo (meados de 1996), meu pai me colocava ao lado dele para ver os filmes de Star Wars no sofá da sala. Anos mais tarde, já aqui em Goiânia, em 1999, vimos a estreia do Episódio I: A Ameaça Fantasma no cinema, onde a sala estava tão lotada que acabamos vendo o filme sentados no chão bem na primeira fileira (haja pescoço). Sai de lá maravilhada. E no Episódio VII: O Despertar da Força, do ano passado, sai da sala de cinema com um sentimento de pura nostalgia. Entretanto, neste sábado, ao terminar de ver Rogue One não sai do cinema só maravilhada — sai de lá extasiada, emocionada, mais impressionada ainda por ter a convicção de que esta história Star Wars não tem nada de Star Wars. Estranho, né? Vou explicar, mas sem spoilers, claro. ;D
Nome: Rogue One, uma história Star Wars
Direção: Gareth Edwards
Duração: 134min
Genero: Aventura / Ficção científica / Ação
Ano: 2016
Classificacao:
Sinopse: Ainda criança, Jyn Erso (Felicity Jones) foi afastada de seu pai, Galen (Mads Mikkelsen), devido à exigência do diretor Krennic (Ben Mendelsohn) que ele trabalhasse na construção da arma mais poderosa do Império, a Estrela da Morte. Criada por Saw Gerrera (Forest Whitaker), ela teve que aprender a sobreviver por conta própria ao completar 16 anos. Já adulta, Jyn é resgatada da prisão pela Aliança Rebelde, que deseja ter acesso a uma mensagem enviada por seu pai a Gerrera. Com a promessa de liberdade ao término da missão, ela aceita trabalhar ao lado do capitão Cassian Andor (Diego Luna) e do robô K-2SO.
Rogue One é um filme mais sério, com poucas piadinhas (e quando tem é na hora certa) e é extremamente tenso do início ao fim. O cenário de guerra mostra heróis que precisaram deixar de lado princípios morais para fazer o que for preciso para derrotar a opressão do Império, virando assassinos e espiões para um bem maior: pela liberdade da galáxia. E no meio desse fogo cruzado está Jyn, nossa protagonista.
Jyn torna-se uma peça-chave para os Rebeldes para garantir o roubo do projeto da arma do Império. Ela é filha do engenheiro responsável pelo projeto da Estrela da Morte e, após ter sido separada de sua família ainda na infância pelo Império, foi criada e treinada como um soldado até seus 15 anos por um líder rebelde extremista chamado Saw Gerrera, amigo de seu pai — até serem separados novamente por uma das batalhas entre os Rebeldes e o Império. Após esse episódio, Jyn vira uma rebelde independente, sem levantar nenhuma bandeira por desacreditar em ambas. Afinal, como acreditar no Império e na Aliança se ambos tiraram tudo o que ela tinha? E foi assim que ela levou sua vida na criminalidade até ser resgatada da prisão pela Aliança para ser um peão do tabuleiro de xadrez dos Rebeldes.
https://www.youtube.com/watch?v=9Bxu76vKhlY
Jyn para mim foi a personagem do ano, apesar de algumas problemáticas. Notei claramente a evolução dela na história, indo de uma mulher desacreditada e sem fé a uma mulher forte, guerreira e um símbolo de esperança para aqueles ao redor dela, saindo do patamar de peão para rainha do jogo, movida pelos seus próprios interesses em associação aos ideais da Aliança. Ela é um personagem humano, que cresce, duvida e muda — e me deixou muito orgulhosa por ver uma personagem feminina representada de forma complexa. Muito mais do que Rey e Leia já foram um dia (mas tenho esperança em Rey nos próximos filmes da franquia, fato). Mas infelizmente eu senti que Jyn poderia ser mais, muito mais complexa. Eu noto nos trailers ela muito mais "rebelde" e com personalidade mais forte do que me foi mostrada no filme, inclusive esperei algumas cenas dos trailers e acabei não vendo. Confesso que não sei o que aconteceu. 😭 Felicity Jones teve muito o que oferecer atuando como Jyn, mas parece que colocaram rédeas nela — o que é muito triste, porém nada de novo em Hollywood. 😒
Outra problemática que vejo é que ela é cercada por personagens masculinos. Seria bacana se tivesse outra personagem feminina por ali nos personagens principais mais presentes, pois a presença da Senadora Mon Mothma e da ativista negra da Aliança (que juro que procurei informações sobre ela e não achei 😤 ) não foi o suficiente para mim.
Além de Jyn, os outros personagens principais também teve sua evolução na história, como o veterano de guerra Cassian Andor. Vi um personagem antipático antes cego pelos ideais da Aliança, para então ser transformado num herói, assim como todos os outros personagens: Bohdi Rook, o piloto desertor do Império que traz uma mensagem importante de Galen Erso, pai de Jyn; Chirrut Imwe, um guerreiro cego fiel à Força que decide unir à causa dos Rebeldes; Baze Malbus, amigo inseparável de Chirrut (porém descrente) que age como seu protetor e braço direito; e obviamente o K-2SO, um droide do Império reprogramado pela Aliança que é confiante como o R2-D2 e nada desajeitado como o C3-PO, e fala tudo o que aparece em sua mente como consequência de sua reprogramação (ele é tudo o que eu queria para o R2-D2 se este último falasse, rs).
Sempre vi a Força em Star Wars como uma espécie de energia de algo superior, algo semelhante a Deus, e via os Jedis usando essa Força como uma ferramenta para o bem (enquanto os Siths para o mal) sem muito o que falar dela, como se sua presença fosse algo óbvio e sem nenhuma ligação espiritual, que só alguns poderiam fazer uso dessa energia. Já em Rogue One vi a Força é como se fosse uma "religião", e isso foi novidade para mim. O filme que senti que mais assemelhou a Força como algo espiritual foi em Episódio VII: O Despertar da Força, com a personagem Maz Kanata (Lupita Nyong'o), e agora em Rogue One, através de Chirrut Imwe. A conexão mística dele com a Força é muito poderosa. Através de seu mantra "Eu estou com a Força, e a Força está comigo", Chirrut usa a Força para ampliar seus outros sentidos e consegue lutar com destreza contra os Stormtroopers e fazer proezas fora do padrão para uma pessoa que não é um Jedi — e isso não significa mover objetos. Depois de Jyn, Chirrut é o meu personagem favorito desse filme! 😍
Rogue One é o estopim para a Guerra Galática entre a Aliança Rebelde e o Império. Sabe aquele texto introdutório que se inicia (ao som da música clássica) em cada episódio de Star Wars? Pois é, Rogue One é exatamente o texto do Episódio IV. Portanto, não é nenhuma novidade qual é o fim do filme, né? Mas mesmo eu sabendo o final, fiquei extremamente emocionada e pega de surpresa com os pequenos detalhes (inclusive com a presença de alguns personagens clássicos, prepare o coração) que a história conseguiu linkar, preenchendo lacunas que a história principal de Star Wars, a da família Skywalker e amigos-barra-agregados, deixou passar com várias incógnitas.
Trata-se da uma história de heróis de guerra, de esperança, fé e luta. Não que nos outros filmes não tinha isso, mas em nenhum momento nos outros filmes eu enxergava com absoluta clareza do que se tratava a Aliança Rebelde, ou da opressão do Império. Só dizia que um era bom e outro era mau. Eu simplesmente via padawans extraordinários lutando contra o lado negro da Força (ou indo para esse lado, que foi o caso do Darth Vader e Kylo Ren) e nada mais profundo que isso. A Aliança para mim não passava-se das cenas de uma chegada inesperada das naves das tropas rebeldes no meio de um caos com a iminência de um fim terrível. Ela aparecia do nada ajudando os personagens principais resolverem o problema como se fosse um passe de mágica estar ali! 😵 Em Rogue One isso é diferente, e pude ver com mais clareza os lados opostos sem Jedis, Siths e sabres de luz para ofuscar. Conheci a verdadeira Aliança Rebelde ali e sua complexidade, assim como vi a influência do Império.
Portanto, se você é um fã alucicrazy da saga devido ao encanto dos Jedis e lutas de sabres, talvez você pode se decepcionar, pois este não é um filme deste Star Wars que as pessoas estão tão acostumadas, mas um spin-off maravilhoso que nos mostra como pessoas comuns podem ser mais extraordinárias que os próprios Jedis a ponto de trazer Uma Nova Esperança para uma galáxia inteira. 😊