Eu precisava de um tempo para mim. Quarta-feira aconteceram algumas coisas no decorrer da aula que não me fizeram bem e acordei na manhã seguinte acabada. Parecia que um trator passou por cima de mim e repetiu a dose. Parecia que eu tinha tomado todas e acordei de ressaca. Noite mal dormida, incluindo pesadelos, é assim mesmo… Não preciso dizer o motivo que levou a me sentir assim, não vejo razão para expor, só basta dizer que o que aconteceu foi o suficiente para me deixar desolada, mesmo sabendo que era pura idiotice minha.
Subi no ônibus lotado. Atravessei aquele mar de braços para chegar ao fundo e recostei na porta. Até que consegui um lugar vago e peguei meu idoso mp3 e coloquei em numa música bem alta. Maravilha… era Iris, de Goo Goo Dolls! Só para deixar meu dia mais feliz :@ … só sorrindo para não chorar mesmo. Enquanto eu ouvia a música (sim, eu quis terminar de ouvi-la porque fiquei com preguiça de abrir a bolsa, tirar o mp3 e trocar de música) eu repetia para eu mesma que não ia conseguir enfrentar aquelas 120 pessoas. E, mesmo eu sabendo que nem a metade conhece a minha cara, me senti com vergonha que entrar lá.
Virou a esquina e sinalizei para sair. Foi um ponto antes do que normalmente deço. Em vez de seguir em frente eu virei à direita e entrei no shopping. Meu coração estava disparado. Subi para o andar de cima e andei em direção ao cinema. Comprei meu ingresso para o filme que tinha naquele horário e entrei na sala.
A sala do cinema estava completamente vazia. Sorri para mim mesma e sentei na última fileira, logo abaixo do buraco onde saía a luz do progetor do filme. Tirei os tênis e apoiei os pés na cadeira da frente e olhei pra cima, pensando… Tantas coisas passaram-se na minha cabeça, boas e ruins. O que eu estava fazendo me fazia sentir corajosa. Eu já podia enfrentar todo mundo que eu tive medo, porque eu soube naquele momento que eu estava acabando com um outro medo que eu tinha: de ficar sozinha em um lugar fechado onde ninguém sabia onde eu estava (tipo uma claustrofobia, mas não chega a tanto assim). Todo mundo precisa de um momento assim, certo? Eu queria que, pelo menos uma vez na vida, fazer algo sem pedir permissão e dar satisfação para ninguém…
Fui educada de uma maneira super-protetora. Filha única é assim mesmo, não é? Minha mãe dá crises quando eu esqueço de ligar para informá-la se eu cheguei ou saí do cursinho ou atravessei a avenida para ir à padaria. Eu entendo o seu lado, é muito amor. Só que às vezes eu me sinto fiscalizada 24hrs por dia! Eu precisava de fazer algo para amenizar isso, pelo menos por alguns instantes.
Quando acabou o filme eu fui para o colégio. Coloquei o uniforme e entrei na hora do intervalo. Eu pensava que ia me sentir péssima ao entrar lá, mas aconteceu muito pelo contrário. Como eu disse: eu me sentia corajosa. Ninguém entendeu o real motivo de eu fazer o que eu tinha feito… a não ser um amigo (que nem esperou eu contar e já estava vindo conversar comigo sobre isso, entendendo tudo) e uma amiga (que para ela eu tive contar).
Eu jurava que ia receber uma bronca daquelas, mas quando eu contei para os meus pais e expliquei tudo o que eu disse aqui, só faltou minha mãe dar pulinhos.